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COMUNICADO

                                                        A Reflorestação da Serra da Estrela

Parque Natural da Serra da Estrela - 2022
Parque Natural da Serra da Estrela - 2022

Fotografia cedida por BALADI Federação Nacional do Baldios


Constatamos que, ano após ano, a dimensão e a gravidade dos fogos florestais se tem agravado.
E é com grande pesar que nos deparamos com esta calamidade socioambiental que se vem repetindo sobre o nosso território florestal.
Recordemo-nos dos grandes incêndios ocorridos no trágico ano de 2017, em que arderam mais de 400.000ha e em que morreram mais de 100 pessoas. Este ano, a área ardida já ultrapassa os 100.000ha.
Esta situação tem sido mantida fruto de decisões políticas que ignoram as recomendações de peritos que apresentaram soluções mais ecológicas e outras valências económicas.
O diagnóstico para as causas deste flagelo é bem conhecido pela comunidade científica e pelos políticos, que têm dado bastante ênfase às alterações climáticas. Na verdade, este flagelo colocou o nosso país em seca severa ou ex-trema e tem originado fenómenos meteorológicos extremos, como ondas de calor.
Mas, as alterações climáticas não serão a única causa - o desordenamento do território (com particular ênfase para o despovoamento do interior), a falta de gestão e ordenamento florestal, associada à continua perda de biodiversidade, tem originado o abandono da floresta e contribuído para o aumento da biomassa combustível, o que, conjuntamente com temperaturas elevadas, baixa humidade e ventos fortes, potencia o risco de fogos descontrolados.
Elencadas acima algumas das causas, parece que o paradigma de desenvolvimento rural (do interior) se mantém - continuamos a apostar em monoculturas de crescimento rápido (como o eucalipto e o pinheiro-bravo) em detrimento de uma diversidade de espécies autóctones, mais resistentes aos fogos, como se poderá facilmente constatar nas edilidades que foram recentemente afetadas no Parque Natural da Serra da Estrela, onde são visíveis "manchas verdes" que escaparam "miraculosamente" ao fogo e que eram constituídas por espécies autóctones - facto amplamente divulgado nos media. Não é por acaso que muitas espécies autóctones são apelidadas de árvores bombeiras.
Mais recentemente fomos confrontados com a triste notícia de que 25% do Parque Natural da Serra da Estrela ardeu desde julho, e que se perderam para sempre espécies endémicas. Ficamos a meditar no que poderíamos ter feito para evitar tal tragédia.
Torna-se evidente, face à violência e dimensão dos fogos que vão ocorrendo, que a estratégia terá de ser outra: planeamento e ordenamento do território assente numa estratégia assumida por décadas e não alterada pelos breves ciclos políticos, numa primeira linha; prevenção, manutenção e criação de riqueza através dos serviços dos ecossistemas, numa segunda linha e, por último, o tão necessário combate (cada vez mais difícil).
Na linha da prevenção, manutenção e criação de riqueza através dos serviços dos ecossistemas, consideramos que no processo de reflorestação a concretizar no Parque Natural da Serra da Estrela, se privilegiem as espécies autóctones adequadas às condições morfológicas e geográficas locais, onde certamente poderá renascer um mosaico de silvopastorícia, com belos bosques ricos em biodiversidade autóctone, por exemplo: várias espécies de Quercus, bétulas, teixos, faias, azereiros e ulmeiros; aos quais se poderiam juntar os castanheiros como valorização económica e, nas zonas ripícolas, amieiros, freixos e salgueiros; sem esquecer as inúmeras outras espécies que formam os sub-bosques.
Deste modo, estaríamos a renaturalizar a Serra, a apostar em espécies ecologicamente mais resilientes, a preservar a biodiversidade e a valorizar os serviços dos ecossistemas, fatores de extrema importância para combater as alterações climáticas e a seca extrema que estamos a viver e, simultaneamente, a prevenir a propagação e a severidade dos fogos florestais, que colocam em perigo pessoas, bens e a natureza. Recordemos que são as montanhas que nos fornecem a tão preciosa e cada vez mais escassa água doce (é na Serra da Estrela que nascem os rios Mondego e Zêzere).
A reposição da biodiversidade na Serra da Estrela classificada pela Unesco como Geopark Mundial e classificada como Parque Natural deste 1976, torna-se um imperativo nacional, especialmente num contexto da adaptação às alterações climáticas. A promoção de atividades económicas com recurso aos serviços dos ecossistemas e ao turismo de natureza, traria um novo folgo à sobrevivência das populações locais.
Uma área classificada como Parque Natural sem biodiversidade nativa e onde são introduzidos vastos povoamentos de monocultura altamente inflamáveis, como o pinheiro-bravo e o eucalipto, leva-nos a questionar toda a sua classificação e gestão. A Serra deve usufruir de uma economia mais sustentável, diversa e em harmonia com a (sua) Natureza.
Preocupados com toda esta situação e tentando dar o nosso singelo contributo, deixamos aqui algumas recomendações, estando certos de que a sua aplicação contribuirá para sérias mudanças tanto no território como na sensibilidade das pessoas:
• Consideramos que para além da reflorestação, deveriam ser reforçadas as equipas de guardas-florestais ou similares com função de controlo de combustíveis, espécies invasoras, recuperação das galerias ripícolas e vigilância permanente (por exemplo, deveriam ser atribuídas/reforçadas as equipas de sapadores florestais por unidade de área de baldios e reservas numa escala de 500ha por equipa). Estas equipas poderiam ser orientadas por técnicos, tais como ecólogos, biólogos, gestores do património natural, ou outros profissionais, desde que sensibilizados para a real conservação da natureza;
• A escassez de água e o decréscimo de biodiversidade acabam por ser as preocupações mais prementes. No entanto, verificamos que a atual legislação ao nível das faixas de gestão de combustível, por exemplo, originou equívocos grosseiros na manutenção/gestão da biodiversidade e proporcionou um rápido avanço das invasoras. Por isso, recomendamos que as Câmaras Municipais em parceria com os proprietários públicos e privados e outras instituições de tutela, reflitam sobre as necessárias alterações à legislação. Somos da opinião de que nestas faixas de gestão deveriam ser potenciadas as plantações com diversas espécies de folhosas e outras espécies arbustivas que auxiliassem à promoção dos serviços dos ecossistemas e ao retorno de alguma fauna e flora, tão urgentes para a sobrevivência da nossa espécie.
Estas áreas funcionariam, desta forma, como zonas tampão de incêndios (devido as propriedades das próprias árvores - árvores bombeiras), ao aumento da humidade relativa local e à manutenção e gestão dos terrenos por partes dos proprietários locais, porque assim estas lhes gerariam uma mais valia económica;
• As Câmaras Municipais, com os seus gabinetes técnicos florestais e/ou divisões de planeamento, conjuntamente com os proprietários de terrenos florestais devidamente cadastrados, devem promover a plantação de espécies autóctones. Esta conversão no zonamento florestal terá certamente de ser acompanhada por benefícios fiscais legalmente estipulados (as verbas poderão vir da penalização dos proprietários que mantenham a posição de plantar espécies de crescimento rápido);
• As Câmaras Municipais com as diversas instituições de tutela e academia devem diligenciar para que se realizem "verdadeiras" sessões de esclarecimento com a implementação de projetos locais que venham a promover os serviços dos ecossistemas e a constituição de galerias ripícolas;
• Uma última recomendação: que os proprietários de parcelas vizinhas de terrenos agrícolas, poços e linhas de água, sejam fiscalizados e penalizados quando plantem espécies de crescimento rápido.
Gratos pelos minutos que dispensaram na leitura deste Comunicado!
                                                                 Movimento Alvorecer Florestal | Setembro 2022

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